CANNES - Confimada no elenco da fic??o cient?fica 'Elysium', do sul-africano Neill Blomkamp, Alicia Christian 'Jodie' Foster, cujo rosto ostenta marcas da idade nada generosas para algu?m com 48 anos, n?o soube dizer ao GLOBO o grau de aproxima??o de sua personagem com o vil?o do filme, vivido pelo baiano Wagner Moura. E especular ? algo que ela n?o faz, mesmo que seja para arriscar um palpite acerca de um papel ou de um poss?vel novo colega, como o eterno Capit?o Nascimento. Atuando desde os 6 anos, tendo participado de produ??es premiadas como "Taxi driver" (1976) e "O sil?ncio dos inocentes" (1991), Jodie aprendeu que o segredo para sobreviver ? ind?stria cinematogr?fica ? saber manter segredo. Passou a seguir esses preceitos com mais afinco ainda quando virou cineasta, aos 29, ao dirigir "Mentes que brilham", de 1991.
RIO SHOW: Veja onde assistir a 'Um novo despertar'
- Eu n?o conheci meu pai biol?gico. Mas, pelo que me contam, herdei dele uma disposi??o para falar demais. Por isso, tenho que ter precau??o. O m?ximo que eu posso dizer sobre a minha vida particular ? que adoro futebol americano e, sempre que estou entediada, passo as tardes na frente da TV procurando um bom jogo, sem torcer para nenhum time - admite Jodie, medindo cada palavra ao falar de seu novo longa-metragem como realizadora, "Um novo despertar" ("The beaver"), cuja estreia no Brasil acontece nesta sexta-feira. - Investi dois anos e meio da minha vida nesse projeto, que levantei com dificuldade. J? se passaram 16 anos desde que dirigi meu ?ltimo longa, "Feriados em fam?lia". E, nesse tempo, vieram dois filhos, Charles e Kit, abri a produtora Egg Pictures e a vida passou, o que torna tudo mais dif?cil.
Dificuldade ? o que Jodie enfrenta agora, frente ? rejei??o do p?blico americano ao astro de seu longa, Mel Gibson. Acusado de antissemitismo, preso por dirigir alcoolizado e envolvido num esc?ndalo de agress?es ? sua ex-namorada, Gibson foi a escolha de Jodie para viver Walter Black, empres?rio da ind?stria de brinquedos. Em meio a uma crise depressiva, Walter, casado com Meredith (interpretada pela pr?pria Jodie), come?a a usar o fantoche de um castor para expressar o que pensa da vida, criando um alter ego que faz da franqueza uma bandeira. Mesmo com cr?ticas elogiosas ao desempenho de Gibson, o filme n?o decola nas bilheterias, amargando salas vazias. De passagem com a produ??o de US$ 19 milh?es pelo Festival de Cannes, a atriz e cineasta americana teve quase que servir de rela??es-p?blicas para Gibson na Croisette, tentando evitar as fofocas sobre os deslizes da vida pessoal do ator.
- Existe uma coisa que eu admiro em Mel: ele ? capaz de entender o qu?o complexa pode ser uma trama sobre situa??es absurdas, como a vida de Walter Black parece ser depois que ele passa a usar o fantoche de um castor como seu porta-voz. Eu adoro estudar psicologia e percebo que, por conta de sua esquizofrenia, meu personagem faz de um brinquedo um ref?gio para poder se expor, mesmo ?queles que o amam. Eu n?o tenho nada a dizer sobre o modo como Mel leva sua vida, pois somos amigos e preciso respeitar sua intimidade. Mas foi uma honra perceber tudo aquilo que ele foi capaz de me dar em sua interpreta??o - diz Jodie, que travou amizade com Gibson em 1993, nas filmagens do western c?mico "Maverick" (1994), de Richard Donner.
Enquanto montava e finalizava "Um novo despertar", Jodie resolveu se envolver profissionalmente com outro artista que ? sin?nimo de pol?mica: o diretor franco-polon?s Roman Polanski. Ao sair da pris?o domiciliar onde ficou entre 2009 e 2010 por conta de uma acusa??o de abuso sexual de menores da d?cada de 1970, Polanski juntou Jodie a um elenco estelar, formado por Christoph Waltz, Kate Winslet e John C. Reilly, para filmar "Carnage", adapta??o para as telas da pe?a "Deus da carnificina", de Yasmina Reza. No ano passado, o texto, sobre dois casais discutindo um caso de bullying entre seus filhos, foi montado no Rio por Emilio de Mello, com Deborah Evelyn e Julia Lemmertz no elenco. Rodado na Fran?a, ao custo de US$ 25 milh?es, o longa de Polanski ? dado como presen?a garantida no 68 Festival de Veneza, em setembro.
- Embora Kate, Christoph, John e eu tenhamos estilos dram?ticos muito diferentes, Roman criou um ambiente de intimidade pleno, que facilitou os conflitos dos personagens. Por mais que eu adore dirigir, poder trabalhar com cineastas como Roman ? um meio para conhecer t?cnicas e conceitos est?ticos novos - diz a atriz, ganhadora de dois Oscars, um por "Acusados", em 1989, e outro por "O sil?ncio dos inocentes", em 1992.
Al?m de Polanski, o leque de cineastas mais autorais com quem Jodie trabalhou tem nomes como Alan Parker ("Quando as metralhadoras cospem"), Spike Lee ("O plano perfeito"), David Fincher ("O quarto do p?nico"), Neil Jordan ("Valente") e Martin Scorsese, que ela idolatra.
- Percebi ainda crian?a que, como n?o era nenhum prod?gio em matem?tica, deveria me expressar bem em outras ?reas, como a interpreta??o dram?tica. Como eu vinha da TV, tendo atuado em s?ries e em comerciais, pensava que o cinema era f?cil, com mecanismos de linguagem parecidos. Marty me provou que n?o era bem assim quando me botou ao lado de Robert De Niro para fazer uma garota de programa mirim em "Taxi driver". Antes, em 1974, eu j? havia feito "Alice n?o mora mais aqui" com ele. Com Marty, percebi que dirigir ? a arte de administrar complexidades - diz Jodie, que n?o se deixa esmorecer pela indiferen?a popular a "Um novo despertar" no circuito exibidor americano.
Busca de ilumina??o
Lan?ado nos EUA h? duas semanas, num circuito restrito, o filme faturou apenas US$ 391 mil, o que limita suas chances de ampliar bem seu espa?o nas telas.
- Quando avalio os filmes que dirigi, percebo que eles est?o sempre falando de contextos familiares em que as pessoas buscam ilumina??o. Eu fa?o cinema para retratar essa busca - diz Jodie. - Mesmo que "Um novo despertar" seja visto por um n?mero significativo de pessoas apenas em DVD, fico feliz por ele existir e discutir a quest?o da depress?o em fam?lia.
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